Funcionários da RR Donnelley relatam que não havia indício de falência
O operador de máquinas Washington Andreza de Souza, de 46 anos, passou o sábado costurando futuros lançamentos das Editoras Companhia das Letras e Ciranda Cultural. Nos últimos dez anos, ele trabalhou na sede da gráfica americana RR Donnelley, em Tamboré. Segundo ele, não havia indício, na véspera do pedido de falência da companhia, feito na noite do domingo, de que a companhia estivesse perto de quebrar. Funcionários do alto escalão exibiam carros de luxo nas redes sociais. “Nunca atrasaram um salário nem um benefício – pagavam até antes da data. Na semana passada recebi salário, vale e participação nos lucros.”
Agora, com a perspectiva de ficar sem a rescisão de contrato e sem o plano de saúde para a mulher, que trata um câncer no fígado, ele só quer os documentos de volta. “Assim, eu posso pelo menos tentar arranjar um emprego”, disse, durante um ato na fábrica na quarta-feira, 3.
Com o fechamento repentino da fábrica, os funcionários que estavam de plantão no fim de semana foram retirados das instalações. A maioria ficou sabendo do pedido de autofalência quando a empresa bloqueou os e-mails corporativos.
Uma das esperanças agora envolve o ex-presidente Marcos Barro – já à frente da Valid, a empresa que deve assumir o Enem, na expectativa dos funcionários. Apesar do quarto lugar na licitação para o Enem, a empresa teria capacidade de cumprir as exigências. No entanto, perdeu recentemente o contrato para a impressão dos catálogos da Avon – conta de R$ 14 milhões por ano.
A RR Donnelley tem três plantas: a de Tamboré, voltada ao mercado editorial; a de Osasco, reservada ao Enem – parte das provas, sem as questões, já estaria até rodada – e a de Blumenau (SC), que faz materiais promocionais. Entre os clientes deixados na mão estão Bradesco, Itaú, Prosegur e Cometa.
Futuro
A falência da gráfica servirá para livrar a empresa de um pagamento de cerca de R$ 50 milhões que teria de fazer a uma antiga parceira de negócios – a Möbius. A duas companhias trabalharam juntas na produção das raspadinhas, loteria popular nos anos 1990, mas, segundo o processo, a RR Donnelley não pagou comissões. O processo se arrastou por 20 anos até transitar em julgado.
O rito judicial de praxe prevê a contratação de um administrador judicial, que terá a função de vender os bens que sobraram, inclusive as fábricas, para pagamento de credores. Segundo fontes próximas ao assunto, o valor dos bens deve ser suficiente para pagar pelo menos as dívidas trabalhistas – com 970 funcionários – e os fiscais. Uma fonte afirmou ainda que a RR Donnelley tentou vender sua operação a concorrentes, sem sucesso.
Fontes próximas também negam que a empresa teria pedido a autofalência por investigações de corrupção. A autofalência teria sido motivada pelo mau desempenho: prejuízos de mais de R$ 120 milhões em três anos. Oficialmente, a RR Donnelley não comenta supostas investigações de corrupções internas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Operação da PF investiga corrupção no Inep em contratação de gráficas do Enem
Suposta organização criminosa teria desviado R$ 130 milhões, dos quais R$ 5 milhões seriam para servidores do Inep.
Foi deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira, 7 de dezembro, a Operação Bancarrota, que investiga suposta corrupção nas contratações das gráficas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre os anos de 2010 e 2019. A investigação é feita em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU).
Nesta manhã, a Polícia Federal cumpriu 41 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro. Entre os alvos estão servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e diretores e funcionários das gráficas RR Donnelley e Valid.
A Justiça Federal também determinou o sequestro de 130 milhões de reais das empresas e pessoas envolvidas na operação. Os envolvidos são suspeitos do cometimento dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, crimes da lei de licitações e lavagem de dinheiro, com penas que ultrapassam 20 anos de reclusão.
Suposto esquema
De acordo com a Polícia Federal, o Inep contratou a multinacional RR Donnelley “sem observar as normas de inexigência de licitação”.
A gráfica assumiu a impressão das provas do Enem após o roubo e vazamento da prova em 2009. A RR Donnelley venceu uma licitação em 2010 e permaneceu até 2015. No ano seguinte, venceu mais uma vez e o contrato perduraria até 2020, mas a gráfica faliu em 2019.
A gráfica Valid foi contratada em regime de urgência para imprimir as provas do Enem 2019. As duas primeiras colocadas da licitação teriam sido desclassificadas para beneficiar a Valid, em um suposto esquema envolvendo servidores do Inep e diretores da empresa.
Os contratos sob investigação totalizaram, desde 2010, um pagamento às gráficas de R$ 880 milhões, sendo R$ 728,6 milhões para a RR Donnelley. A PF estima que cerca de R$ 130 milhões foram superfaturados “para fins de comissionamento da organização criminosa”. Desse valor, 5 milhões teriam sido para enriquecimento ilícito de servidores do Inep.
Atualmente, as provas do Enem são impressas pela gráfica Plural, a mesma do vazamento das provas em 2009. Ela fechou contrato com o Inep para imprimir os cadernos do Enem 2020 e o contrato foi prorrogado para o Enem 2021. A Plural não está sendo investigada.
O que diz os envolvidos
Em nota, a Associação de Servidores do Inep (Assinep) diz ser a favor da apuração de toda denúncia ou suspeita de irregularidade envolvendo os processos e as atividades do Inep. A Assinep também defende que o Instituto precisa ser protegido das “descontinuidades administrativas e ingerências políticas”. Por fim, pede a aprovação da PEC 27/2021, que visa conferir ao Inep autonomia técnica, administrativa, financeira, orçamentária e patrimonial.
O Brasil Escola procurou o Inep, que respondeu que “a gestão da Autarquia está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários e pronta para colaborar com qualquer processo investigativo.
A assessoria da Valid não foi encontrada. A gráfica RR Donnelley Brasil encerrou suas atividades e seus antigos diretores não se pronunciaram.
Crise no Inep
A operação Bancarrota foi deflagrada exatamente um mês depois da demissão em massa de servidores do Inep. Os servidores alegaram que o presidente do Inep, Danilo Dupas, não tem tomado decisões técnicas. Além disso, Dupas teria assediado moralmente servidores para que tirassem do Enem questões que desagradariam o presidente Jair Bolsonaro.
Além do Enem, o Inep é responsável por outros exames e avaliações educacionais, como o Exame Nacional Para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Fontes:
https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/enem/operacao-da-pf-investiga